domingo, 6 de abril de 2008

O Fanático?

Apetece-me falar um bocadinho desta expressão. Até porque acho que é um bocado mal-tratada. Geralmente tenta-se sempre desenhar uma linha invisível entre fã e fanático. Mas gostava que alguém ainda se lembrasse de explicar, afinal, a diferença. O fã é racional e o fanático é irracional, obsessivo? O fã persegue os seus ídolos para lhes pedir autógrafos e o fanático persegue para pedir peças de roupa interior? O fã coloca posters do seu ídolo no quarto e o fanático coloca tatuagens espalhadas pelo corpo? Eu gosto do descontrolo saudável. Gosto da imprevisibilidade que a palavra fanático me sugere. Até porque, no limite, o grau de fanatismo mede-se sempre pelo amor e compreensão que temos em relação à arte de quem admiramos. Por exemplo, a uma banda de música, a um ator de cinema, a um cineasta, a um pintor. Será que gostarmos de todas as músicas de uma banda é fanatismo saudável? Seria, nesse caso, fã ou fanático? Será que é assim tão difícil de compreender que o revisitar de uma voz que nos é tão especial pode, à partida, validar mesmo a música menos entusiasmaste? Ou melhor, estou a cair no erro da falácia popular. A música nunca seria menos entusiasmaste, porque o fanático (ou fã) sente os contornos todos da música, aqueles que não são objetivos nem sequer tangíveis por alguém que não ame "aquele som". Revisitamos a especificidade instintiva da guitarra, a voz única que nos acompanha em pensamentos, o "feeling" geral que não abandona jamais o seu som. Enfim, somos fanáticos apenas porque os compreendemos bem demais. E de fanáticos passamos a suspeitos. Suspeitos por gostarmos de tudo o que aquele cineasta produziu. Suspeitos porque a sua marca de autor é tão forte que se torna impossível de ignorar, impossível de não gostar. Antes de gostarmos da arte como uma expressão geral, amamos carnavais específicos, atmosferas especiais, cineastas de culto, bandas de cabeceira, pintores de eleição, (...). Somos humanos e, por isso mesmo, procuramos constantemente lugares. Lugares que nos desafiem e onde possamos conviver com os nossos pensamentos e dialogar com as emoções. Encontramos esses lugares quando vivemos as nossas obsessões. Os nossos fanatismos. Somos humanos, pois claro. Ou talvez apenas fanáticos.

Texto: Tiago Pimentel

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